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segunda-feira, agosto 14, 2006

Aula 01: Fetichismo

Fetichismo

Gilian Cristina Barros

Magia. Essa foi a primeira conotação apresentada a palavra fetiche que tem origem no termo português "feitiço", dada “pelos comerciantes portugueses aos objetos empregados nos cultos religiosos dos negros da África ocidental. O termo tornou-se conhecido na Europa através do erudito francês Charles de Brosses em 1757.” WIKIPEDIA (2006).

Máscara, véu, acessório, algo que complementa, substitui, artifício que propicia a atração para o sexo, culto, aceitação, conformidade, dentre outras estes são alguns dos atributos implícitos ao significado da palavra fetiche.

Marx apresenta o fetiche da mercadoria como elementos indispensáveis na preservação do modo de produção capitalista, nele estão ocultas as desigualdades sociais o que torna aparentemente natural o ambiente social.

Freud apresenta o fetiche como substituição da verificação da ausência do pênis materno, por exemplo, meninos quando crianças em pequena estatura têm acesso pelo olhar aos pés, sapatos e lingeries tornam estes elementos acessórios e substitutos, vindo a anteceder posteriormente em vida adulta o prazer e desviar do interesse sexual para objetos e algumas partes do corpo.

RIVERA (1997) apresenta citando Freud, o fetichismo como “... compromisso (...) entre reconhecimento e recusa de re-conhecimento”, por isso, o afirmo como véu que possibilita o desaperceber de coisas que nossos olhos muitas vezes enxergam.

A crença e fé excessivas nos fetiches – fetichismo – tornam os objetos como humanos, conforme afirma ZUIN (2006), “... é interessante destacar o processo de "humanização" dos fetiches, cujas marcas que os simbolizam passam a ser comercializadas como se fossem portadoras de personalidade própria.”.

Em Educação a humanização de objetos como livros podem reduzi-los a símbolos de status, como um fetiche arraigado culturalmente. Essa magia dos que levam o livro sob o braço e dos que apenas observam, muitas vezes dando importância e respeito aos que assim agem, “por não pertencerem ao conjunto dos que retroalimentam o elitismo semicultural, dos que fazem que lêem – ou se contentam com a leitura de orelha – para se fecharem nesse grupo.” CLARO! (2005).

O crer que quanto mais recursos, imagens e incentivos uma aula apresentar, mais a aprendizagem ocorrerá, gera uma forma de fetiche em educação, assim como, onde o professor que utiliza recursos tecnológicos, como por exemplo, o laboratório de informática, pode ser visto como além de seu tempo, mesmo que esteja utilizando uma simples pesquisa no “Google”. Simples, se não considerar o processo, a forma como as pesquisas são realizadas e posteriormente referenciadas sem a análise do funcionamento dos meios que podem levar ou não a aprendizagem, não percebendo que “a máquina é um instrumento que perpetua um mundo em que os donos dos meios de produção exploram os deserdados.” ALVES apud DAGNINO e NOVAES (2004).

Autores, pensadores, palestrantes de plantão, ditos educadores e até mesmo pesquisadores, são muitas vezes cultuados como entidades – fetichismo – que possuem certo poder ou magia sobre os processos de ensinar e aprender na escola, não sendo se quer questionados em suas teorias e se estas vão de encontro às “reais necessidades” do aluno, professor e da escola.

A disciplina de Matemática ao ser considerada como uma das mais importantes, difíceis e possibilitadora de reprovação é um fetiche arraigado nas ações escolares – conselho de classe. Além disso, também é envolvida por fetiches trazidos desde a formação dos professores de matemática até a sua atuação em sala de aula, como no que se refere à necessidade de tornar concreto e real, a todo custo, por meio de inúmeros recursos a compreensão de conteúdos matemáticos, e a que envolve o ser “professor de matemática”, ser absoluto, iluminado parente dos deuses e muitas vezes o próprio deus.

O fetiche que ronda não apenas os espaços escolares, mas o da sociedade em que a escola esta implícita é o de que a educação leva ao desenvolvimento da nação, advindo do fetichismo da mercadoria onde ao rasgar-se este véu ter-se-ia claro que, “não é a educação que gera emprego, mas emprego que gera educação.” ASSIS, (2006).

Máscara? Véu? Acessório? Quais os artifícios que uso/faço para alcançar muitas vezes o que desejo? Seriam isso fetiches?

Referências

ASSIS. J. Carlos. (2006). O fetiche da educação como causa do desenvolvimento. Disponível em: < http://www.desempregozero.org.br/editoriais/o_fetiche.php>. Acesso em: 13 de Ago. 2006.

CLARO!.(2005). Críticos e borboletas: o fetiche pelo livro. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Disponível em: < http://www.eca.usp.br/claro/2005/06a/>. Acesso em: 10 de Ago. 2006.

DAGNINO, Renato & Novaes, H. Tahan.(2004). O fetiche da tecnologia e a visão crítica da ciência e tecnologia: lições preliminares. Disponível em: < http://www.itcp.unicamp.br/site/itcp/arq156.pdf>. Acesso em: 09 de Ago.2006.

RIVERA, Tânia. (1997) O Fetiche, subversão do símbolo. Revista Percurso. São Paulo. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/percurso/main/pcs19/artigo1913.htm>. Acesso em: 10 de Ago. 2006.

WIKIPEDIA. Fetiche. A enciclopédia livre. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Fetiche>. Acesso em: 13 de Ago. 2006.

ZUIN, Antonio Álvaro Soares. (2006). A vingança do fetiche: reflexões sobre indústria cultural, educação pela dureza e vício. Educ. Soc., Campinas, v. 27, n. 94, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302006000100004&lng

=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 Ago. 2006.

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