Pages - Menu

terça-feira, novembro 21, 2006

Aula 13: Linguagem Privada e Experiência Compartilhada

Linguagem Privada

A linguagem privada é real, pois refere-se à forma de apresentação e enunciação de fatos e sentimentos individuais, mesmo outros não conseguindo compreendê-la.

Segundo Wittgenstein, a linguagem privada pode ser definida como uma linguagem que um outro não pode entender.[...] Wittgenstein define a linguagem privada como uma linguagem para sensações, embora mais tarde ele fale de outros estados de consciência como a memória. (Soares, 2006)

Conforme (Smith, 1995) citado por (Soares, 2006), a linguagem privada possui dois sentidos: um epistemológico e outro ontológico. O primeiro decorrente do fato de que as palavras se referem àquilo que apenas o falante pode conhecer e uma outra pessoa poderia supor; o segundo, decorrente do fato de que ela se refere a sensações imediatas e privadas, onde, as sensações que pertencem ao falante não podem ser possuídas por mais ninguém.

Wittgenstein citado por (Barroso, 2006), analisa o caso arquétipo da aquisição do conceito de dor, em que os adultos adestram a criança a exteriorizar as suas sensações por meio de expressões verbais: a substituir o grito de dor (expressão natural e primitiva) por exclamações e frases (expressões verbais complexas). Ensinam à criança um novo comportamento de dor, um novo jogo de linguagem chamado “exteriorização”.

A forma de manifestar publicamente uma experiência privada como a dor, por exemplo, por meio de um “Ai”, é uma forma de exteriorizar através de um jogo de linguagem palavras relacionadas com as sensações pessoais do falante.

A exteriorização de uma experiência privada advinda de um treinamento é apresentada por (Barroso, 2006), como dissimulação, tal qual, realizada em representações teatrais. Por este foco uma linguagem e experiência privada podem ser compartilhadas por representações - dissimulação, não vindo representar as palavras relacionadas com o que apenas o enunciador saberia. Algumas expressões, por mais que manifestem expressões treinadas devem ser consideradas como reais, pois, seria absurdo duvidar da veracidade de algumas exteriorizações que nos são apresentadas com um elevado índice de evidência: ver alguém a correr em chamas e a gritar por socorro.

Se as características da linguagem privada são: a não compreensão da linguagem pelo outro, uma linguagem voltada para as sensações onde as palavras se referem ao que o falante conhece, o compartilhamento e até mesmo o ensino não são possíveis, como afirma (Shoji, 2006), Uma linguagem privada é concebida como uma linguagem que, a priori, não pode ser compartilhada nem ensinada, referindo-se a experiências privadas somente conhecidas pelo falante.

Wittgenstein, caracteriza uma eventual linguagem privada, como apresenta (Barroso, 2006) tendo, principalmente, três características: as palavras relacionadas com o que apenas o enunciador saberia; as palavras relacionadas com as sensações pessoais do enunciador e outrem não poderia compreendê-la.

Contrapondo-se a alguns autores, Wittgenstein, afirma que na linguagem privada, dispondo apenas da sensação, não sou capaz de definir meu signo, isto é, não sou capaz de atribuir significado ao som que associo à sensação, uma vez que tudo aquilo que me parece correto será tido como correto, o que de certa forma representa um subjetivismo extremo. (Soares, 2006).

Contudo, (Soares, 2006) citando (Smith, 1995), admite que a linguagem privada [...] é uma sofisticação do modelo ‘nomeobjeto’ quando aplicado ao caso das sensações.

Teoricamente, observa (Smith,1995), poderíamos aproximar a linguagem objetiva de Descartes com a teoria da linguagem privada exposta acima, dado que, para Descartes, as idéias também têm uma realidade objetiva. Esta realidade, continuando nossa hipótese, seria capaz de oferecermos o critério para empregar corretamente, no futuro, as nossas representações.

Referências

Barroso, Paulo. Linguagem entre Experiência da Comunicação e Comunicação da Experiência.Universidade do Algarve. Disponível em: .

Soares, Edvaldo. Limites para a compreensão da subjetividade: a concepção do mental como 'res'. Universidade de São Paulo – Brasil. 2002. Disponível em:< codigo="A0141&area=">.

Shoji, Rafael.Condições de Significado na Linguagem Mística. Disponível em: .

Tugendhat, Ernst. Wittgesntein: A impossibilidade de uma Linguagem Privada. Universidade Livre de Berlin. Tradução e notas e notas: Plínio Junqueira Smith.Extraído da Revista do CEBRAP n. 32 de 1992 (as notas se encontram na revista).Disponível em: .

Um comentário:

Suelen F. Machado disse...

Oi Gilian, estive fuçando nos seus blogs!!Fuçando mesmo, sem vergonha de ser feliz! :-D É que pensei: quem sabe passando por eles não fico impregnada de boas palavras e ricas argumentações, sabe aquela coisa "esfrega pra ver se passa" rsrss, poxa, muito legal a idéia do blog para postar as aprendizagens do mestrado, assim vamos sistematizando tudo, e melhor trocando e multiplicando conhecimento! Uma idéia muito bacana, já aproveito e parabenizo pela entrada oficial na UFPR, afinal não é qualquer um que é federal, fala sério!!:) E lembre-se nada será capaz de derrubar os "piazinhos" como vocês mesmo falam... eles esquecem que conhecimento e generosidade são indestrutíveis...
Parabéns mais uma vez suas postagens são perfeitas!
E eu vou copiar essa idéia!!! Com creative, calma!hehehe
Mas vou falar muiiittooo dos piazinhos nele, pode ter certeza!!
Abraços de bicho preguiça cansado! (aff)rsrss
Feliz Natal!! e ótimo ano!!